A noite acabara de cair. As estrelas brilhavam no céu com alguma dificuldade devido as nuvens, que queriam abrir. Estava sozinha em casa, milagrosamente. Já havia suspirado umas cem vezes num espaço de minutos, os meus pés embatiam no chão velho de madeira criando um barulho, um pouco irritante. Os meus dedos estavam manchados de tinta, e estava rodeada de papeis amachucados, nenhuma destas cartas parecia suficientemente boa para deixar e partir, mas não deve haver uma carta perfeita onde nela declaro que fugi e não quero que me procurem.
Depois de um tempo e de mais algumas folhas espalhadas no chão, deixei um papel em cima da minha cama. Olhei mais uma vez aquele quarto e despedi-me mentalmente deixando uma lágrima fria e solitária escorrer pela minha cara, rapidamente a limpei. Havia prometido não chorar, não podia ser fraca ao ponto de voltar para aquele pesadelo.
"Mãe o que estou prestes a fazer é o ato mais egoísta que já fiz, desculpa-me por isso, por te abandonar, mas eu preciso de sair daqui. Eu preciso de respirar e não sentir que estou prestes a morrer. Eu quero não ter medo, e além do mais eu quero ser feliz, ser amada. Não te questiones por favor. Só quero que saibas que estou bem, quando sentires saudades podes abraçar a minha almofada ou então podes olhar para o céu, eu vou estar lá, e vou estar na tua mente, alma, e coração. Para sempre.
Se algum dia me quiseres procurar, se quiseres vir atrás de respostas, não te canses. Nem leias esta carta muitas vezes pois não vais encontrar nada escondido nas entre-linhas. Se me quiseres encontrar não teras de pensar muito, sim estou longe, mas vive como se eu estivesse do teu lado. Sempre.
Amo-te mãe.
Mary Lovejoy."
Depois de fechar, pela última vez, a porta daquela casa, desci as escadas rapidamente não queria que ninguém me visse. A noite estava fria, o vento cortava a minha pele arrepiando-me. Aprecei o meu passo até a estação de comboio, quando a minha vez chegou um senhor de idade média atendeu-me com um sorriso amistoso e umas bochechas coradas.
"Para onde a menina deseja ir?"
"O fim da linha, o mais longe possível" Respondi. A minha voz soou fria e amarga. Suspirei assim que recebi o bilhete onde nele se encontrava escrito Twin Moons Hill. Sorri mentalmente, gostei do nome.
Faltava cerca de dez minutos para o comboio passar. As minhas mãos estavam frias, e parecia que todo o ar havia sido retirado dos meus pulmões para não falar do aperto gigante que tinha no peito e do nó que tinha na garganta.
O tempo não passava e parecia que até os mais ínfimos barulhos soavam como uma orquestra, sentia o meu coração bater como se estivesse perto do fim. Uma luz na escuridão da linha apareceu, e as poucos pessoas que estavam a espera levantaram-se, assim como eu, suspirei um pouco alto e entrei. Talvez por estar distraída, ou por apenas encarar o chão e não olhar para o que me rodeava não tenha visto a pessoa com que acabara de embater, o meu ombro ardeu, e rapidamente olhei para cima para me desculpar. O estranho com que havia embatido, era surrealmente sinistro, sinistramente bonito. Mas antes que pode-se falar a sua voz sussurrante cortou-me.
"Não fugas pequena, o mundo é um lugar perigoso para meninas como tu"
Sentia-me envergonhada, senti que a minha alma fora despida. Toda a minha pele se arrepiou, aposto que as minhas bochechas tinham acabado de ganhar uma cor rosada além de os meus joelhos tremerem. O seu olhar pousava em mim atentamente, como se esperasse uma resposta para a qual eu não tinha palavras. Sorria como se tivesse acabado de descobrir todos os meus segredos, e eu juro que naquele momento não consegui respirar. Afastei-me e entrei no comboio vendo as portas deste fecharem-se na minha frente. Aqueles segundas pareceram horas de tortura na minha mente.
Adentrei o comboio, caminhando até encontrar um lugar afastado o suficiente de todos. Não que me quisesse isolar, apenas naquele momento precisava do meu tempo e do meu espaço.
Do outro lado da janela via a cidade onde cresci ser apagada no horizonte. Era melhor assim, eu não pertencia aquele lugar. Nunca me senti em casa lá. Sempre que penso na minha mãe o meu coração aperta, e parece que o ar desaparece. Eu vou sentir tanto a falta dela. Mas eu já não aguentava mais vê-los, ouvi-los, eu já não conseguia respirar direito naquela casa. Precisava de ar, sempre que fechava os olhos e me imaginava feliz, imaginava-me longe deste lugar. Imaginava-me num prado com relva fresca e alta com algumas flores e um pôr-do-sol magnifico. Imaginava poder ver todos aqueles sítios que via nos cartões postais, mas nunca os havia visto. A minha mãe, Tina, como gosta que lhe chamem, apelidou-me de forasteira em pequena. O que é demasiado irónico agora, porque neste momento nada me descreve melhor do que essa palavra. Forasteira.
Fechei os olhos, não para dormir, apenas para me abstrair de tudo e todos. Um último suspiro de sofrimento escapou pela minha boca antes de deixar para trás tudo o que conhecia.
Depois de um tempo e de mais algumas folhas espalhadas no chão, deixei um papel em cima da minha cama. Olhei mais uma vez aquele quarto e despedi-me mentalmente deixando uma lágrima fria e solitária escorrer pela minha cara, rapidamente a limpei. Havia prometido não chorar, não podia ser fraca ao ponto de voltar para aquele pesadelo.
"Mãe o que estou prestes a fazer é o ato mais egoísta que já fiz, desculpa-me por isso, por te abandonar, mas eu preciso de sair daqui. Eu preciso de respirar e não sentir que estou prestes a morrer. Eu quero não ter medo, e além do mais eu quero ser feliz, ser amada. Não te questiones por favor. Só quero que saibas que estou bem, quando sentires saudades podes abraçar a minha almofada ou então podes olhar para o céu, eu vou estar lá, e vou estar na tua mente, alma, e coração. Para sempre.
Se algum dia me quiseres procurar, se quiseres vir atrás de respostas, não te canses. Nem leias esta carta muitas vezes pois não vais encontrar nada escondido nas entre-linhas. Se me quiseres encontrar não teras de pensar muito, sim estou longe, mas vive como se eu estivesse do teu lado. Sempre.
Amo-te mãe.
Mary Lovejoy."
Depois de fechar, pela última vez, a porta daquela casa, desci as escadas rapidamente não queria que ninguém me visse. A noite estava fria, o vento cortava a minha pele arrepiando-me. Aprecei o meu passo até a estação de comboio, quando a minha vez chegou um senhor de idade média atendeu-me com um sorriso amistoso e umas bochechas coradas.
"Para onde a menina deseja ir?"
"O fim da linha, o mais longe possível" Respondi. A minha voz soou fria e amarga. Suspirei assim que recebi o bilhete onde nele se encontrava escrito Twin Moons Hill. Sorri mentalmente, gostei do nome.
Faltava cerca de dez minutos para o comboio passar. As minhas mãos estavam frias, e parecia que todo o ar havia sido retirado dos meus pulmões para não falar do aperto gigante que tinha no peito e do nó que tinha na garganta.
O tempo não passava e parecia que até os mais ínfimos barulhos soavam como uma orquestra, sentia o meu coração bater como se estivesse perto do fim. Uma luz na escuridão da linha apareceu, e as poucos pessoas que estavam a espera levantaram-se, assim como eu, suspirei um pouco alto e entrei. Talvez por estar distraída, ou por apenas encarar o chão e não olhar para o que me rodeava não tenha visto a pessoa com que acabara de embater, o meu ombro ardeu, e rapidamente olhei para cima para me desculpar. O estranho com que havia embatido, era surrealmente sinistro, sinistramente bonito. Mas antes que pode-se falar a sua voz sussurrante cortou-me.
"Não fugas pequena, o mundo é um lugar perigoso para meninas como tu"
Sentia-me envergonhada, senti que a minha alma fora despida. Toda a minha pele se arrepiou, aposto que as minhas bochechas tinham acabado de ganhar uma cor rosada além de os meus joelhos tremerem. O seu olhar pousava em mim atentamente, como se esperasse uma resposta para a qual eu não tinha palavras. Sorria como se tivesse acabado de descobrir todos os meus segredos, e eu juro que naquele momento não consegui respirar. Afastei-me e entrei no comboio vendo as portas deste fecharem-se na minha frente. Aqueles segundas pareceram horas de tortura na minha mente.
Adentrei o comboio, caminhando até encontrar um lugar afastado o suficiente de todos. Não que me quisesse isolar, apenas naquele momento precisava do meu tempo e do meu espaço.
Do outro lado da janela via a cidade onde cresci ser apagada no horizonte. Era melhor assim, eu não pertencia aquele lugar. Nunca me senti em casa lá. Sempre que penso na minha mãe o meu coração aperta, e parece que o ar desaparece. Eu vou sentir tanto a falta dela. Mas eu já não aguentava mais vê-los, ouvi-los, eu já não conseguia respirar direito naquela casa. Precisava de ar, sempre que fechava os olhos e me imaginava feliz, imaginava-me longe deste lugar. Imaginava-me num prado com relva fresca e alta com algumas flores e um pôr-do-sol magnifico. Imaginava poder ver todos aqueles sítios que via nos cartões postais, mas nunca os havia visto. A minha mãe, Tina, como gosta que lhe chamem, apelidou-me de forasteira em pequena. O que é demasiado irónico agora, porque neste momento nada me descreve melhor do que essa palavra. Forasteira.
Fechei os olhos, não para dormir, apenas para me abstrair de tudo e todos. Um último suspiro de sofrimento escapou pela minha boca antes de deixar para trás tudo o que conhecia.